quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Da janela

A pele dela era seca. Quase pálida. Na varanda penteava os cabelos devagar. Leve, bem leve o passear dos cabelos nos ombros. Os olhos túrgidos, como se a sua frente estivesse deitada a tristeza. Eu a contemplava devagar, como quem ouve sonata ao pé do piano. Linda.
Era como ver a melancolia sóbria dançar à luz fraca da varanda. Linda dor. Seca. Quase pálida.
Quando nasci era meio janela, daquelas de gravetos catados na floresta, e que se abrem nos dias de Sol.

Quando cresci, decidi que ia ser janela de menina ficar vendo a lua, ou então janela de pular, daquelas feitas pra fugir desembestada por ter feito o doce na cozinha desandar.

Teve época que sem querer fazia-me porta.
Era como um ritual de fingir ser quase grande.
Deixava o cadeado jogado perto dos pés, e me fazia pronta, pro cheiro dos sonhos entrar.

Gotas

Chove.
Barulhinho em rio.
Pedrinhas caem soltas.
Dias soltos fogem.
Palavras brincam.
Esconde-esconde n'água.
Dedos se embolando em correnteza.
Chuá.Chuá.
Som de papel a desembrulhar.
Gosto de flor se desfazendo.
Barulho de pétala dormindo.
Silêncio!É noite de Lua e menino

(30/08/06)