Tem um monte de barulho morando dentro de mim.
Parecem árvores conversando com o vento, ou crianças correndo atrás do moço do picolé.
Tem dia que parece dor antiga fazendo zumzum.
Os barulhos se misturam.
Embrulham as saudades e depois rasgam o papel de enfeitar,
eles as deixam abertas espalhando cheiro forte.
As vezes aparece barulho novo que num piscar se embaralha aos outros.
Tem dia que é banda de prato e panela. Me fazem dançar até!
Dia desses acordei querendo sorrir silêncio, e não sentir cheiro de saudade.
Mas tanto me deixei 'embarulhar' que dentro de mim parece não ter espaço.
Futuquei, futuquei, tanto futuquei procurando lugar de descansar que fiz um corte.
Mais um barulho.
Descobri que não silencio.
Só em poesia,
Fora dela ganho barulhos
e machucados.
Tenho o mar atravessado em minhas costas e uma bola de fogo na cabeça. O mesmo fogo de que é feito o chão da terra. Minha língua é de barro vermelho e molhado. Nascida em dezembro, sou eu meu cavalo.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
"¿Qué horas son mi corazón?"
De repente veio ele, palavras poucas e um certo jeito rude de gostar de passarinhos. Não sabia onde tocar, por onde passear, carregava um sorriso sempre beirando sépia. Era meio metade. Gosto incerto que causava estranheza, como a primeira vez que a gente come açúcar mascavo. Teve dia, por um querer inesperado, deu sorriso azul de presente à ela, em seguida entregou segredo. Ela fez disritmia derramando em outra boca. Ele transbordou. Novamente sépia, como retrato antigo com cheiro de dor, abriu camisa e mostrou coração calejado. Mas mesmo no meio de tanto desajeito das partes, ele cuidava. Certo dia gritou de lá que ela inda havia de machucar os pés de tanta mania de andar descalça. A menina não deu importância, dias sem olhá-la, e agora preocupado com seus pés, um despropósito talvez. Mesmo misturados em asperezas teve noite acarinhada, talvez porque no escuro a nudez é menos crua. Ele cantou pra ela, e num repente os olhos quase sempre mudos esparramaram poesia pelo chão. E ela dançou pra ele. Cabelos soltos, vento de varanda invadindo, levando cheiro de flor. Beleza espalhada. Não se sabe por que, mas justo ali abriu-se ferida nos pés da menina. Ela não percebeu dor escorrendo. Só ele a viu girando no chão de sangue e poesia, embalada por canção que vinha dele. Não conseguiu pedir que parasse. Sangue. Sangue. Cada vez mais sangue. Embebida de poesia ela dançava com os pés agora quase crus. E foi ali, com tanta dor esparramada, que eles fizeram de dia envelhecido, noite de amanhecer.
(novembro de 2008)
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Ele me levou pro fundo,
onde o pé não encontra areia,
e lá no meio
fez cócegas na barriga do mar.
Ele me presenteou a noite,
me fez nascer saudade,
esmorecer dor de antes.
Ele me fez vermelha
dançar descalça
em peito nu na madrugada.
Fez dele meus cabelos.
Na brincadeira dos cachos,
nasci árvore e leão.
Ele é lindo
como canção ninar.
Ele é meu meninar.
Me faz nascer poesia,
e me amanhece.
onde o pé não encontra areia,
e lá no meio
fez cócegas na barriga do mar.
Ele me presenteou a noite,
me fez nascer saudade,
esmorecer dor de antes.
Ele me fez vermelha
dançar descalça
em peito nu na madrugada.
Fez dele meus cabelos.
Na brincadeira dos cachos,
nasci árvore e leão.
Ele é lindo
como canção ninar.
Ele é meu meninar.
Me faz nascer poesia,
e me amanhece.
domingo, 2 de novembro de 2008
cotidiano
todo dia é de noite.
saudade é dia que amanhece noite,
anoitece flor.
flor traz nos olhos casa,
todo dia é asa,
pra bordar cobertor,
cobertor traz no colo cheiro,
todo dia é brasa,
de sonhar sono inteiro.
todo dia é de (a) mar,
de afogar e afagar.
todo dia só é dia pra noite chegar.
* colaboração Renan Reis
saudade é dia que amanhece noite,
anoitece flor.
flor traz nos olhos casa,
todo dia é asa,
pra bordar cobertor,
cobertor traz no colo cheiro,
todo dia é brasa,
de sonhar sono inteiro.
todo dia é de (a) mar,
de afogar e afagar.
todo dia só é dia pra noite chegar.
* colaboração Renan Reis
Assinar:
Comentários (Atom)