quinta-feira, 4 de abril de 2019

SEMPRE ME VI GRANDE

sempre me vi grande
mesmo criança eu era grande
não tenho memória de me
 achar pequena 

a dominação patriarcal racista
hoje capitalista,
começou a me fazer pequena,
da ação dos homens conheci o medo.

coisa completamente oposta ao meu jeito expansivo de viver 
desde que berrei em Itabuna - Ba, perto do meio dia,
em dezembro de 1986.

a violência me diminuiu por anos
e ainda tenta me deixar pequena,
mas sou imensa...

não venha querer cravar em minha pele o que não é meu.
vivo num corpo-memória que se permitiu adormecer e nascer.
fui parida pelo vento
feita de raio e movimento  

"medo não me alcança"*

vá pra longe com sua palavra mal.dita,
com seus golpes de faca, pau, ácido, correntes, revólver, pontapés, murros e tesouras,
com seu olhos nojentos me vendo coisa pornográfica, propriedade do seu desejo.

sempre me vi grande
mesmo criança eu era grande
não tenho memória de me achar pequena.


(Maíra Guedes)









- 04 de abril de 2019
- alterações em 12 de marco de 2021
* verso de Carta de Amor, música

/texto de Maria Bethânia. 

BANDEIRA

abril vermelho
prepara tempo
pra nascer vento
dentro de maio

domingo, 31 de março de 2019

GENTE LÍNGUA


Quanta gente língua
excitante da palavra
lambe a fronteira
pelepágina?

sábado, 23 de março de 2019

dicionário 3

término

dever
devir.
entendi despir.
ela: despedir.


...

negação

memória não é carcaça
mergulho não é naufrágio
destruir amor
não é arte de poeta


...

desejo

pólvora molhada
secando ao sol
mas é nublado
o dia

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

água 1

mania de água viver de coração em coração é preciso um quase-infarto pra fazer caminho de dentro pelo sangue longe-perto pele-linha tempo-peito por favor algum silêncio sem ar rarefeito pro corpo remendado cuidar a sós do perigo de abrir-se livre de pedras, ânsias
refluxos anti-versos e mormaços por favor algum silêncio pro coração despencar pelas veias poros,
flechas e fazer do próprio corpo
festa sem remendar o tempo


(Maíra Guedes)





2016

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

LUA EM PEIXES


minha disposição ao delírio
corre auroras de rio,

hábito de água
do meu corpo imenso 
e púrpura,

afluente de desejos,
canoeira em aflição
de afogamento.


                             @mairateatro