sexta-feira, 4 de maio de 2012

boca

Minha boca é olho. 
Dela vejo os deslizes dos minutos,
e as descobertas mais desejadas.

Cada 
poro
nela
pulsa.

E por ela expulso.

É na boca que repousa o pescoço,
e descansa o grito que empunha meu corpo como espada.

É dentro dela
que com a língua envolvo a lembrança
e transformo em memória.

Mastigo a carne do tempo,
cuspo o movimento,
sou céu e saliva. 


(Maíra Guedes)






Itabuna-Ba, 04 de maio de 2012



quinta-feira, 26 de abril de 2012



A palavra
ocupa as frestas
de meu corpo.
Apura com as mãos
a forma inacabada
que carrego.

Desliza por minha barriga.
Me apruma o verso no umbigo.
Tatua madrugadas
nos traços
que amanheço.

A palavra me tece,
me latina,
me cabe.
A palavra me azuleja,
me anuncia.
me abandona.

A palavra faz meu sexo de abismo.


(Maíra Guedes e Jober Pascoal)


Ilustração: "Maçã" de Vânia Medeiros.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Trajeto



Eu sei do verso
amamentado
pela boca
que carrega
Gioconda,
aleita
Clarice,
grita Audre Lorde.

Rascunho
do giro
dos dedos
nos seios
de abril.

Sei da língua
latina 
desaguada
em amor
e guerrilha.

Sei do não decoro do tempo.

É minha pele
que desenha
o caminho da explosão.










Colaboração de Jober Pascoal


segunda-feira, 16 de abril de 2012

OUTONO


Por pura danação, outono me pegou pelo umbigo. 
Um despautério, visto que o verão deixou fiapos! 

Em conluio com o vento, fez passeio digno de trovoada sobre meu corpo, daqueles de permanecer aceso o arrepio. Ele diz que é influência do inverno.
Aceitei o deslize. 

Com as costas, esmiucei folhas secas com displicência largadas. Barulho bom típico da estação. 

Vontade de enredar os pés do outono com entrelinhas, ocupar seus poros, ladrilhos. Habitá-lo o mais das vezes, enquanto desfolha certezas de avenidas inteiras. 

Tomo a prosa por campina para contornar
meus excessos. No limite da pele; a tempestade.



sábado, 7 de abril de 2012




Derramou carinho cru em meu ouvido.
Com a língua fez marcas coloridas que habitam minha pele.
Avermelhado, foi deslizando o corpo nas bandeiras.
Latino-americando meus olhos,
Gonzaguiando meus dias,

Me fez amor.



(Maíra Guedes, 04.12.2011)




*Ilustração: Vânia Medeiros
http://www.flickr.com/photos/vania_medeiros/

sexta-feira, 16 de março de 2012





No rebuliço
do olho dele
danço à Ogum.
Em meu peito
deságua a ventania.
Não tem fuga.
É o atabaque
o que nos pare.
É o batuque
o que nos cria.


(Maíra Guedes, março de 2012)



colaboração de Jober Pascoal
Ilustração de Vânia Medeiros

sexta-feira, 9 de março de 2012

Operária

O amor é uma fábrica de poesia.

Nota: A cafonice é a vanguarda do romantismo.



(Maíra Guedes e Érica dos Anjos)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Carnavalesca

Cobra no corpo,
labareda no sangue.

Corre vulcânica a liberdade em mim.
Corre fogueira nos pés.

Voluptuosa.
Malemolente.

Som invade meus olhos.
Dançar é comungar com o Tempo.


(Maíra, Itacaré - Ba)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Eu, menina nas coisas antigas,
aguço poesia, olho, e vontade
pra ser pedaço e mira de Odé.

Volto pro meu começo.

Cigana faz do chão,
chama, som, gargalhada.
Grava em meu corpo canção,
que caminho só se abre
depois da obrigação.

Aprendo palavra nova,
da folha, do cheiro, do vento.
No passo de Tempo,
desnuda me faço elemento
do reino de Olorum.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

dicionário II

Amor é parição de noite-vagalume
rebento da distância
fruta severina.


(Maíra - verão de 2011)