quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

MULHER POLIFÔNICA


Mulher polifônica, 

entre o seio e a ponte,

luzindo amanhecida 

o labirinto das árvores. 


Cabaça de parir grandes pássaros.

Eu moraria no alvoroço das cantigas 

que saem de seus dentes.


Mulher polifônica, assobio do vento, 

sussurro, agouro, benção,

melodia entre o escuro e a fonte.



(Maíra G., 16.12.2020)





terça-feira, 8 de dezembro de 2020

MULHER CÓSMICA


mulher cósmica,

desdobra cíclica

a natureza.


corpo de caber contrários.

efeitos quebradiços de arar 

terras, peles e poentes.


mulher cósmica,

deslizante e líquida,

da estrada, o caminhar.



(Maíra, 08.12.2020)










quarta-feira, 21 de outubro de 2020

PRINCÍPIO

durmo ao anoitecer pra lua me passear 
profunda

acordo ao amanhecer pro sol me encontrar 
pelos olhos



MULHER CRIAÇÃO

Há uma terra em que quando uma mulher menstrua
ela estende um tecido vermelho na janela.

Na sua porta as pessoas deixam presentes e pedidos 
para que na Lua Nova ela os coloque em suas preces.

A mulher lê tudo o que lhe dão.
Cada fruta, cada pão,
cada fogo e solidão...

A  mulher lê tudo o que lhe dão. 









sexta-feira, 11 de setembro de 2020

FAMIGERADA

Mulher de corpo faminto,
olho lâmina
língua caule
pescoço alongado de caber grandes joias.

Seios espaçosos como o céu,
pele de lâmpadas acesas,
vulto de si quando outra.

Mulher de corpo faminto,
pés de terra argilosa
cabeça nascedouro de fontes
espinha forte como as samambaias da floresta.

domingo, 21 de junho de 2020

Quando Amor me chamou "Deusa"



Quando Amor me chamou "Deusa", 
abri os olhos com espanto e agradeci pedindo que não o fizesse. 

Ele sorriu e começou a chamar-me Deusa em outras línguas, e tantas! 

Falava alto todas as sílabas para que meu Espírito reconhecesse me tirando do desperdício. 

Depois, me banhou olhos e ouvidos 
e me aproximei divina, coroada. 



(Maíra Guedes, junho/2020)

quarta-feira, 13 de maio de 2020

eu quero o amor revolucionário


Vento de nascer fogueiras
água de encontrar sementes,
eu quero o amor sem medo das armas que carrego,
capaz de levantar casas
fundar cidades
derrubar presidentes.

Desbravador do corpo
luz de liberdade
aprendiz de solidão.
Que se revoluciona ele mesmo - o amor - 
na estabilidade da transformação que cuida dos eixos
da respiração 
do próximo passo.

Amor quilombo,
negação da mercadoria
gozo-alquimia 
de princípios e propósitos
prontidão da memória
sem vergonha de existir.


(Maíra Guedes)

 

segunda-feira, 20 de abril de 2020

interdição

O amor quer me ver e não pode.
Quer dormir do meu lado,
lamber meu pescoço,
massagear meu corpo desde os pés
com as mãos bem abertas
dançar espirais
entre as coxas e costas
alcançar meus umbrais,
tocar meu cabelo
e não pode. 

quarta-feira, 15 de abril de 2020

segunda-feira, 23 de março de 2020

garganta




entre cataclismas
sonoros
ser voz de lança

tempo inteiro



Maíra,  2016 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020




MEU GOZO É OFERENDA
                           






(Maíra, 13.02.2020)





quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

será?

Será que teu cheiro invadirá fevereiro,
como tua poesia as minhas manhãs?

Será que tuas mãos me amolecem ligeiro,
como amoleceu teu verso,
meu coração cabreiro
em falar de amor?

E teus olhos? Conseguirão ser
como tua palavra cachoeira,
tromba d'água inteira,
tipo sonho de verão?

E quando eu me despir imensa...
e tu me descobrir vento-pedreira,
... ainda assim ficará?

Não sei...
Verso balança, inebria os sentidos.
Abro os olhos pra não escorregar,
e te vejo a me dizer no ouvido,
que teu verso é afago doce,
carinho sereno,
que levantou ontem mesmo
pra me inundar.




(Maíra, 13.02.2020)

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

assembléia do corpo - parte I

Como vai ser o proceder coração?
To muito frágil pras tuas escolhas de verão.
Presta bem atenção que o último precipício 
quase me arranca os dentes da boca.

Lembro como hoje.
Durante a queda fui batendo nas pedras.
Isso sem falar no tombo. 
Consegui cair em pé por milagre de observar gato pular.
Mas, foram meses pra recuperar o corpo
estrupiado inteiro por conta desse teu janeiro.

Como vai ser agora?
Nada de sair correndo por aí,
nem se jogar na frente dos carros.
Eu sei que sinal verde confunde,
mas tem que olhar pros 3 lados.

Chato tá você!
Me respeite que nenhuma outra parte do corpo aguenta mais seus mandos e desmandos!
Em reunião disseram que podem até te substituir.
Olha lá vc! Gosto do corpo do jeito que tá,
tudo perfeitinho, ajeitadinho no lugar,
Nem invente confusão.
sem essa conversa mole
de meter os pés pelo coração.













toque

vento é toque
pele
folha
atrito

vento é toque
e não é tua

a decisão
de sentir as mãos
do vento


(Maíra Guedes)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

PENETRAÇÃO


Penetração não é só fálica.
Água, que nem parece pau, penetra.
Vento, livre de forma, penetra.
Meu olhos? Nenhuma dúvida.
Penetram agora tuas esquinas em fuga.



(Maíra Guedes, janeiro/2020)



quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

COMBUSTÃO


O problema é a combustão.

Língua lenta quente úmida,
fenda d'água escorre
e entra.

Som dos deuses, dizem,
minha voz no teu ouvido.

Em sobressalto
e quase prece,
peço,
que paremos de transar
nos pensamentos.


Pós-platônico


Não quero ficar
de toque na tela
beijo com emoji
story novela
conjectura 
direct 
cela,
sem presença
qualquer desejo 
é virtual caverna.



TRAVA-PAUSA


pausa pra respirar palavra íntima língua estrangeira
pausa pra respirar palavra língua pra respirar estrangeira
pausa pra respirar

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

água de beber




abri a guarda
e vi a queda

teu sorriso
meu abismo
de verão






me procura 
quando o coração
 estiver corpo


segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

A PAZ




É preciso atenção; vaziez não é paz. 
Paz é cheia de muita sensação. 
Paz é velha. Tem muita memória e é uma doçura! Vocês nem imaginam como gosta de acontecer nas miudezas. Tipo quando alguém diz: "Finalmente tive um dia de paz!". Ela respira aliviada e segue buscando jeitos de diminuir as angústias. 

Dia desses fui visitá-la. Estava com  um nó na garganta, sem dormir direito, pedi que me desse um conselho, alento, remédio, que aliviasse aquela agonia.  Depois que lhe contei minha história, se embrenhou por baús imensos e demorou mais de hora. Quando voltou, toda empoeirada, e apenas me disse: "- Respire."  Fiquei revoltada!

- Mas dona Paz! De novo isso? Me mandar respirar? 
Ela, com toda paciência, seguiu:
- Sua questão parecia difícil, mas foi só o jeito que você perguntou... é muita coisa na cabeça de sua velha.  Fui buscar a solução, remexi memória, hábito, sentimento. Já me cansava as costas quando a Lembrança de Respirar me olhou e disse: "Sou eu de novo não é?"  É isso minha filha... eu sei que parece bobagem, mas acredite na sua velha: lembre-se de respirar. Dessa vez tente pelo diafragma, certo? Faça uma vez aí pre'u vê se você sabe. 



(Maíra Guedes)




27.01.2020